quinta-feira, 28 de junho de 2012

Mulheres pianistas!

                                                                                   GUIOMAR NOVAES
No livro As Pianistas dos Anos 1920 e a Geração Jet-Lag (Ed. UNB), a autora Jaci Toffano revela que, de 1913 a 1929, 97% dos alunos do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo eram mulheres. Mas havia uma barreira que as impedia de construir uma carreira como pianista: “havia a domesticidade, a aproximação forte com o piano, mas quando chega o limite entre diletantismo e profissionalismo, havia uma barreira”. Daí a ausência de mais e melhores mulheres-pianistas no mundo masculinizado da interpretação pianística.

Alguém já me disse que uma explicação plausível para o número de homens famosos como chefs de restaurantes é: as mulheres crescem obrigadas a cozinhar e os homens crescem e depois vão se divertir cozinhando. O patriarcalismo também é notório no século XX, pois, entre conciliar as viagens de trabalho e os afazeres domésticos, muitas compositoras e instrumentistas tiveram suas carreiras interrompidas (ou nem mesmo iniciadas) por escolherem a segunda opção. Por que a ínfima quantidade de mulheres-pianistas geniais como Martha Argerich? Seriam apenas por causa de formas diferentes de processamento cerebral, fisiológico, emocional entre homens e mulheres? Ou será pela pequena colaboração masculina nos cuidados do lar, o que exigiria mais tempo materno da mulher-pianista?

Em seu livro, Jaci Toffano aborda as carreiras bem-sucedidas das pianistas brasileiras Antonieta Rudge (1885-1974), Magdalena Tagliaferro (1893-1991) e Guiomar Novaes (1896-1979). Por nossa conta, podemos citar também a pioneira Chiquinha Gonzaga, que rompeu barreiras ainda mais rígidas e preconceituosas ao escrever música popular no final do século XIX; Eudóxia de Barros, Maria Teresa Madeira, Esther Scliar; a regente Ligia Amadio; as compositoras Marisa Rezende e Jocy de Oliveira (esta, a mente mais criativa da música brasileira de concerto); e as jazz pianists Tânia Maria e Eliane Elias – ambas radicadas nos Estados Unidos.

Jaci Toffano escreve que as mulheres-pianistas podem equivaler-se aos homens, mas dificilmente estão no topo. Por isso, ela diz que quando vê uma mulher brilhando na música, das duas, uma: “ou ela está pagando um preço alto, ou encontrou um homem que colabora”.

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